segunda-feira, 2 de maio de 2011

TDAH: A DIFÍCIL ARTE DE MANTER / FAZER AMIGOS E NAMORADAS !


Sincericídio é um neologismo que, segundo alguns, resulta da junção das palavras 'sinceridade' e 'homicídio', indicando o ato de matar alguém, moral e psicologicamente, por um excesso de sinceridade. Para outros, no entanto, sincericídio seria uma junção de 'sinceridade' com 'suicídio', insinuando que aquele que faz tal prática também colhe os frutos podres do excesso cometido, numa espécie de suicídio social. Sendo assim, qualquer que seja a vertente explanatória da nova palavra, sincericídio está ligado a uma falta de bom senso, uma invasão da individualidade alheia, um excesso na emissão de julgamentos sobre o outro, frequentemente resultante da ausência de filtros racionais de escolha das palavras. Como já dizia a metáfora neotestamentária, a língua é semelhante a uma faísca, que tem o poder de incendiar toda uma plantação.

O TDAH é bem difundido por suas três características principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade. O que pouco se discute, todavia, é que a terceira delas, a impulsividade, mais comum em homens que nas mulheres, está intimamente ligada à principal qualidade e também defeito de um portador de TDAH. TDAs costumam ser conhecidos por sua sinceridade. Não que isso seja sempre visto como uma vantagem. Ao contrário, as pessoas que convivem com TDAs, família, colegas de trabalho e amigos, tendem a se acostumar com os apimentados comentários acerca de sua aparência, defeitos ou desvantagens. São frase do tipo: “seu cabelo é sempre tão bagunçado!”, “você se veste tão mal!”, “você precisa cuidar desses culotes!”, “que mal cheiro! Acabou o desodorante lá no mercado?”, etc.

A maioria das pessoas, tentam levar o amigo ou familiar sincericida na esportiva, como se seus comentários fossem uma tentativa mal sucedida de criar humor. Muitos desses TDAs passam a ser 'conhecidos' por essas suas péssimas piadas. E o pior, eles mesmos não percebem o quanto podem magoar ou prejudicar seus entes queridos através de sua 'inocente' sinceridade.

O fato é que se uma pessoa pratica o sincericídio por causa do TDAH, ela realmente não deve perceber que faz algo ruim com as pessoas que vitima. O TDA sincericida, no papel de pai, destrói a auto-estima de seus filhos e, no papel de professor, pode causar o rebaixamento cognitivo dos alunos com mais dificuldade. Portanto, se você vive ao lado de uma pessoa assim, lembre-se que o primeiro passo, é retirar das cenas de sincericídio, qualquer vestígio de humor. Converse com a pessoa, alerte para a gravidade dos comentários que ela faz e para as consequências provocadas para quem sofre o comentário e para ela mesma, que perde a estima dos outros.

No portador do TDAH, o sincericídio deve ser causado pela impulsividade associada à baixa atividade do córtex pré-frontal, causando evidente prejuízo na funções executivas como a inibição de comportamentos indesejáveis, como o sincericídio e o consumismo. Portanto, embora as medicações psico-estimulantes, sejam bastante eficazes na reativação do córtex pré-frontal, apresentando evidente aumento das funções executivas, também é muito importante que, seja via terapia cognitivo-comportamental, ou pela diálogo, o portador do TDAH seja conscientizado por seus convíveres, sempre que cometer sincericídio, numa constante tarefa de imposição e restabelecimento de limites para seus atos.

Um abraço a todos e bom trabalho no combate ao sincericídio!

OBS: Nesta situação o Metilfenidato me ajudou muito ! (Fernando Vasserstein)

Professor Sean Mardem

Bullying e TDAH

O bullying ou, em termos mais nacionais, o assédio moral, é a prática de ações, preconceituosas ou discriminatórias, de um indivíduo ou grupo, em situação de vantagem, sobre um outro indivíduo, a vítima. Tais práticas causam evidentes prejuízos, nos âmbitos psicológico, social e físico. Há diversos anos esse tipo de abuso vem sendo denunciado, principalmente nas escolas norte-americanas. No Brasil, a discussão ainda é tímida, a despeito de reportagens em veículos de grande circulação.

O que se propõe aqui é uma reflexão um pouco mais adiantada em relação ao TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade – e a prática de bullying. O portador do TDAH, em sua versão combinada, a que reuni os sintomas do déficit de atenção aos sintomas da hiperatividade, como a impulsividade e a agressividade, mostra-se muitas vezes, especialmente quando parte de um contexto familiar de repressão e castração psicológica, por conta do desconhecimento do transtorno e de posturas intolerantes, um indivíduo propenso a hiper-reações com sinais de cólera, rancor e violência.

Não se propõe aqui que o portador de TDAH seja uma pessoa violenta, mas que a impulsividade, regada por um contexto familiar inadequado, além de traumas e rotulações resultantes dos tradicionais mecanismos escolares de exclusão dos diferentes, podem criar o terreno perfeito para o desenvolvimento de uma personalidade autoritária e violenta. Assim, haveria alguma relação entre o TDAH não tratado, entre tal terreno psíquico resultante e algumas práticas de bullying, agora em voga?

Este questionamento aponta para a necessidade premente de mais estudos ligados ao TDAH e para a importância inegável da divulgação do conhecimento deste transtorno entre professores e pais de alunos. O diagnóstico precoce representa, assim, não apenas a chance de uma futuro melhor e mais digno para milhões de brasileiros, mas a possibilidade de que as hoje vítimas deste transtorno devolvam o descaso plantado pela sociedade na forma de prejuízos outros para ela mesma.

Professor Sean Mardem